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EM VERDADE VOS DIGO

Recanto do pensamento

EM VERDADE VOS DIGO

Recanto do pensamento

Meu porto te tome

mcarvas, 23.05.09


No meu jardim acordou
logo ao raiar do dia
uma pétala de alegria
que da nebelina brotou!

Desabrocham malmequeres
rosas cravos e jasmins
é de uma ternura sem fim
poder sentir seus odôres.

Entre todos os canteiros
que enchem o ar de côres
somente um em primores
enche o espaço por inteiro.

Tantos foram meus amores
e outros sem tempo não vi
mas quando olhei p'ra ti
na face senti rubores...

Minha rosa d'eleição
por tí construí altares
para enxergar terra e mar
sentindo crescer a paixão.

Alberga em si a saudade
esse pronúncio complacente
qual fio prêso a pingente
que deixa o peito carente.

A alma fica dormente
ao albergar a distância
nesta força quanto alcança
a rota que está pendente.

Que a marezia se acalme
para enxugar esse chão
nos ventos polule a razão
quando em meu porto te tome.

Gravem as estrelas no céu
seu nome longo e rosado
doce botão tão prendado
nesse jardim que é só meu.

MC

 

Dança de estrelas

mcarvas, 23.05.09


A dança de estrelas parou
sob um manto denegrido
saltam fagulhas despidas
na noite que despontou!

Acordam sombras fugídias
que morfeu então largou
nestas, a noite pintou
tantas quantas viu perdidas...

Um sílvio no ar soou
crispando mêdos em franja
pelas bordas, já sobeja
tudo do nada sobrou.

Chovem fagulhas de um salto
abeirando-se da entrada
que é tão míngua a sacada
para acolher tanto pranto!

Planta mágua, planta ódio
planta rancor desmedido
de tão só ficou perdido
nas vertentes do abismo!...

A azáfama que se alonga
n'um sustenido menor
tão abrupta, tão maior
e sob o pranto, já se afoga!...

MC

 

Começo

mcarvas, 19.05.09


Que tombe então fulminado
o serviçal da mentira
o permíscuo som da lira
por sua corda esganado!

Que sinta o sabor da derrota
ao vêr a porta trancada
por onde só passa a verdade
não mais su língua afiada.

Pintem os céus de vermelho
para honrar esse dia
que o plácido fulgor da lira
seja serrado n'um celho.

Joguem-no pois ao precipício
que seja tão vasto, de mais
para que não volta mais
a dar começo ao início!...

MC

 

Fonte das sete bicas

mcarvas, 19.05.09


Corre salta em alvoroço
deixando a saia rodar
roda, roda sem parar
roda singela sem esforço...

Na fonte das sete bicas
moças pousam o canêco
rodopiam no tamanco
sobre a calçada com socas!

Claras, escuras ou floridas
mas todas com saias de rendas
pequena que esconde a fenda
tem grande ância na partida.

Em seus decotes, ai as prendas
que a pele alva faz luzir
de coradas vão fugir
são todas moças prendadas!...

A fonte tem seus pecados
e outros tantos que ali deixam
pois com a mão que semeiam
também n'ela lavam o fado.

Com o canêco à cabeça
ladina, sobe a calçada
passa a rua em revoada
desde a fonte até à praça.

Ao passar junto à capela
leva a mão ao peito e reza
faz ao senhor a promessa
que expõe em sua preçe!

Sorri quando ali passa
com um ar envergonhado
e ao sorrir expõe a graça
deixando no ar sua traça...

Moça de folhos rendados
que força tens em teu traço
com tua trança e um laço
com duas pontas douradas.

Dás à praça tanta graça
que já não tem dia que passe
por mais que a hora se atrase
que não anceie teu abraço.

MC

 

Minha fada

mcarvas, 17.05.09

  No casúlo minha fada  abrigo me ofereceu  senti que minh'alma guardava  de perigos que eram meus!   Pareceu-me protecção Divina  a mão que p'ra mim se estendeu  de seus olhos saíu luz  a luz que ilumina os meus!   Senhora de pele tão fina  de alvo olhar cristalino  desenhas tu meu destino  com terna ponta de pêna...   MC 

Porto dos sentidos

mcarvas, 17.05.09


Sono solto, sono parco
sono de fraco sentido
e é num sono perdido
que mergulha o Deus Baco!

Arrasta com ele esperança
lavando toda a fé da mente
despoja num corpo que sente
a mais ténue lembrança.

Da forte côr do licor
subsistem seus sabores
largando no ar odôres
que abafam, sua viva côr!

Nessa mente inconsciente
nasce e medra a fantasia
grassa em canto a primazia
de um contentamento descontente.

Parte sulcando nas aragens
nos sonhos se deleita a mente
que adormece lentamente
pairando por tenras pastagens...

Graça em grassa o não sentir
que dá sentido ao incauto
que ao despertar desse intento
sufraga mil espasmos a sorrir!...

MC

 

Ínfia Deusa

mcarvas, 16.05.09


A ti,ínfia Deusa da saudade
um hino, versarei em preçes
Por todos os dias que teces
galopa mui gran ansiedade!

Te rogo, não ouses partir
os vesículos da quimera
que sempre brote a primavera
com novos cachos a florir.

Rebentem os prados de vida
com seus botões a sorrir
não mais ouses fugir
levando na alma a partida!...

Te hie-de versar uma estrofe
p'ra paz d'alma concederes
não mais teres de esconder
no peito agruras que sofres.

Dessa estrofe farei
um palácio em teu nome
que o dom das ninfas te tome
pois mui alto o erguerei.

Nas nuvens, então plantarei
um jardinzinho encantado
p'ra n'ele te versar meu fado
e em quantas lutas pelegei!...

MC

 

São rosa II

mcarvas, 16.05.09


Essas rosas que me encantam!
Essas prosas que me tomam...
Soltam arrepios quando falam
tão ditosas, que me embalam
sem résteas de mau fadar!

É um bailado de côres
tantos são os sentidos
que sôfregos, adormecidos
suspiram parcos sabores!

E neste frenezim encantado
soltam fagulhas ao vento
ao terno sabor do relento
detidos em sono cansado.

Sorriem, sorriem p'ra mim
quan novos; apráz-me saber
que a vida tem novo querer!
No sono, quan parco é o fim.

Adormeço, embebido em seu abraço
e n'ele me dispo do velho
todo pintado a vermelho
que em sangue lavou seu regaço!...

MC

 

Rosas senhora

mcarvas, 16.05.09


São rosa senhora!
Estas rosas que te dou
são tudo daquilo que sou
e medram de hora a hora.

São rosas senhora!
Este encanto que me segue
tanto pulsa quan persegue
é sempre momento, agora!...

São rosas senhora!
que me tomam os sentidos
desencontros desmedidos
me seguem a toda a hora...

São rosas senhora!
inundam todo o ser
arrebatam o querer
de ter-te sempre, agora!

São rosas senhora!
Que soltas todas se somam
vergam vontades e enleiam
não ter folgo de ir embora.

São rosas senhora!
Que exultam o temor
tomam todo o querer
sob o jugo de Izidora.

São rosas senhora!
Que a vil Deusa das trevas
semeia em tantos acervos
ao não me deixar ir embora!...

MC

 

Mais um dia

mcarvas, 13.05.09


Sustem! Sustem um grito d'alma
que arrebata o pêso do tempo...
Onde caíu...Purga de paz,sustento!
Nessa perda que me acalma.

Pudesse tomá-la nos braços
cingir seu peito ao meu
gravar em si o que sou
vincado dos mais leves traços.

Pudesse dissolver-me em seu corpo
soltar este fogo que me prende
vertigens de um passado presente
poder enfim, encontrá-la no tempo

E do mais leve roçar de alento
pudesse, pudesse então por fim
vingar o que me atormenta
esta ânsia de contenda...

Enfim, pudesse eu em mim!...

MC

 

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