Festa d'eleição
Cesta de verga à cabeça
pela mão leva um petiz
saltitando vai feliz
no peito, medra a esperança.
Tanto botão a espreitar
no seio daquela cesta
leva flores para a festa
que está quase a começar!
É uma asáfama no largo
junto à capela maior
alva, que é um primor
no dia do redentor.
O sino então parado
sente o badalo a zurzir
a passarada a fugir
só para no meio do prado.
Já o sol tinha acordado
quando a fanfarra chegou
e logo o bombo soou
na calçada de empedrado.
Rua acima, rua abaixo
anda o mordomo ligeiro
este ano o Zé gaiteiro
tem de soltar mais um facho.
A criançada atrevida
vai puxando o pêlo à burra
que leva no lombo verdura
com ar de cumprometida.
Com os olhos ainda inchados
passa a Alice a remoer
ainda lhe deve doer
perder a noite de fados.
Cantadeira d'eleição
perdeu-se nos copos com o Zé
não mais se segurou de pé
foi uma complicação!...
O Zé um pouco atrevido
com os copos é bem mais
sem tempo p'ra soltar um ai
mete-lhe a mão no vestido.
Logo saltou confusão
ao se sentir apalpada
pegou-se tudo à paulada
no Zé estendeu a mão.
O tasqueiro não gostou
de vêr o negócio estragado
correu tudo à mocada
até a Alice larpou.
Toca a banda no coreto
e o madraço abre um olho
num banco cheio de folhos
estendeu o seu tapete.
A Rosa, moça prendada
que todo o largo enfeitou
ao vêr o que o madraço estragou
ferra-lhe grande estalada.
Homem de fala pausada
ao vêr sua filha danada
sem soltar uma só fala
assenta-lhe forte paulada.
No largo engalanado
tudo alinhado prás festas
foi porrada até ás tantas
ninguém foi posto de lado.
Gaitas com foles inchados
bombos e cacos de gesso
tudo serviu p'ra arremesso
no fim cabeças rachadas.
Festa de se tirar o chapeu
não há no lugar outra igual
ninguém levou por mal
tudo que nada perdeu!...
MC