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EM VERDADE VOS DIGO

Recanto do pensamento

EM VERDADE VOS DIGO

Recanto do pensamento

Caldo de fruta

mcarvas, 01.03.13

Banana, feijão e pinga

Goiaba ananás e manga

Maracujá e jinguba

Mandioca, pilão e fuba

Tudo esta terra tem

Até a planta do dém-dém

E do maluvo também.

Tem pau de bordão

Para tocar a percussão

E até com árvore do mamão

de faz um violão!

Um bom prato de funge

Com quiabo e paca assada

Gindungo bem assanhado

Para temperar o guisado

Mas se ficar à rasquinha

Bebe uma cuca fresquinha

Muita mais fruta tem

Até da morena também

Mas não vamos falar de isso

Senão perde-se o juízo.

Tem flor de sabugueiro

Para fazer um fumeiro

E sem qualquer complicação

Trata da constipação.

Se passarem no carneiro

Bem atrás do hospital

Tem pitanga bem docinha

Argila muito branquinha

Que trata de qualquer mal!

Se noutras terras tem mais

No Negage tem demais

E vamos parar por agora

E deixar p'ra outra hora!...

 

MC

PRAÇA DOS SILÊNCIOS

mcarvas, 26.02.13

O vôo da noite, pousou

Sobre o lugarejo perdido

Entre o xisto empedernido

Nem de espreitar, alguém ousou!

 

Com seu uivo arrebeta

As franjas que o luar semeou

Sob si já domou

O trapo de luz que desbota.

 

Passos de fraca firmeza

Ecoam na escarpa encravada

Calcando carreiros do nada

Vagueia envolta em tristeza.

 

A cria do homem tem mêdo

Mêdo de não ver mais além

Curte na noite o desdem

Da luz que lhe foge, tão cedo!

 

Que praças de silêncios estes

que não vislumbram ninguém!

Tolhem caminhos que vêm

Gerem arribas funestas!...

 

A crias do homem, tem mêdo

Mêdo de não ir mais além!...

 

MC

FORJAS

mcarvas, 26.02.13

Canta-lo é enternece-lo

Envolve-lo pois, de mansinho

vesti-lo sim, de azevinho

É não mais querer esquece-lo!

 

O manto que cobre a aurora

cavalga ventos do norte

Uiva nos vales tão forte

Fedendo por dentro e por fora...

 

Trémula a luz serpenteia

Por entre folhados escondidos

quiçá, veledas perdidas

Neste cosmo que enxameia.

 

Despi-lo pois dessas franjas

Que de tão,... em si se alongam

tão vastas são que prolongam

A rudeza destas forjas!

 

Malham o passado, presente

Num grito forte, tão escuro

Senti-lo, é já tão duro

Que o tempo se apaga ausente.

 

MC

INSANO

mcarvas, 03.08.12

Se soubesse dizer-to

Se  podesses entender

O que navega em meu peito

Se quizesses tu, abri-lo!

Verias que nele polulam

Milhentos, os arco-íris

Lírios, rosas de mil côres

Uma vastidão de textos

Prosas em mais de mil tons

Ideais de pensamentos!

Só de os não veres esmorecem

De os não sentires adoecem

Transformam-se enfim!...

 

Neste nada...

Em que se afoga meu peito.

 

MC

LEMBRANÇAS

mcarvas, 03.08.12

As ondas que se levantam

Trazendo ventos de esperança

Quiçá, tempos de rica bonança

Em todo que é velho suplantam.

 

Cavalgam em suas cristas

Avantajadas esperanças

Crispam-se em brigas e rixas

Das mais íngremes já viatas.

 

Nesse sal, se purga a alma

Numa salmoura à deriva

Nesses prados sem guarída

Trópega, se enrola na espuma.

 

Oh saudosos madrigais

Que de côr tudo pulsava

Sublime trova ladrava

no cêrco dos vendavais.

 

Que os sois brilhantes de outrora

Sejam engolidos nas trevas

Com suas fortes prêsas

Rasguem o depois, o agora!...

 

MC

Cinzas

mcarvas, 30.05.11


Surreal a luz que brota
por entre gemidos já cumpridos
sonhos antigos perdidos
novas vénais de desfeita.

O vão triste e soturno
feito de palha e de cinzas
perdeu-se em divas e ninfas
num ciclo pobre, sem sono.

Lampejam caminhos desfeitos
do outrora virtuoso
com riso largo e jucoso
velados por cinzas de despeito.

Tropego o dia nascido
que em míngua se acomodou
e é nesta volta da roda
que o nada de tudo é traçado.

Cantares, leva-os um sopro
por essas palhas ardidas
pousam olhares desvaridos
na dança funesta de um logro!...

MC

Amigo rasteiro

mcarvas, 22.07.10

Sobe a encosta e a serra

essa luz que é um encanto

brilho de prata e de pranto

afagando nova era.

 

A serra com seus precalços

planta velhos degraus

que sob a força de um pau

crava no breu novos traços.

 

Sulcos profundos e esguios

que somados já são muitos

ardilosos quanto astutos

tornam o trilho inseguro.

 

Larga um pio a cotovia

soltando a gula do mocho

que do meio do restrolho

seu piar ele já seguia!

 

No trilho saltita um rato

desafiando o perigo

por força desse labrego

o mocho já forra o papo.

 

Agachada a cotovia

seu peito bate mui forte

pois dessa força de galope

de novo vai ver o dia.

 

O seu amigo rasteiro

não foi tanta a sua sorte

mesmo sendo tão forte

era tão menos ligeiro.

 

MC

Funesto Abril

mcarvas, 20.07.10

Acordou um dia o povo

a ver nascer o Abril

sem saber que era ardil

logo amassou o renovo...

 

Nesse dia tão funesto

engalanou-se de rosa

do cravo, não mais que prosa

resquíssios do pensamento!

 

No jugo que lhe cravaram

tres prêgos se sobressaiem

Ajuda, Belém e São Bento

p'ra ninguém ter o intento

de fugir ao julgamento.

 

Somam-se leis numa arena

de interesses alterneiros

que os sirva por inteiro

mesmo banidos da cena!...

 

Nos corredores de S. Bento

a ganância vai de pé

que o povo perdeu a fé

e a praga nunca vem só!

 

Em Belém, é já um facto

arrolha-se forte a quermesse

rebuscam fuçando benesses

e fausto seja seu prato.

 

Em leilão rolam os cargos

para honrar o compadrio

pois é já num redopio

que se partilham os tachos.

 

A honra morreu solteira

lá p'rá Ajuda alternadeira

que sob tanta abestinência

não mais cai da cadeira...

 

Honrarias, mais que muitas

engalanados de prôsa

pois que entre a seta e a rosa

lambuza-se tanto agiota!

 

P'ra deixar a coisa certa

à centros e trapos vermelhos

soltos ao vento, qual espelho

saltam juntos p'rá colecta!...

 

Peito inchado qual pavões

nessa tal de coisa pública

é so por mais uma rúbrica

e p'ró bolso uns milhões...

 

Quando algo há para assumir

a culpa morre solteira

é vê-los de qualquer maneira

por onde calha fugir.

 

Sucumbe de novo o povo

pela cobiça de alguns

pois pudor não têm nenhum

e o velho vinga de novo!

 

Triste a sina desse povo

ao se julgar de cuidado

sem sequer olhar p'ró lado

volta a elegê-los de novo.

 

Honram-no pois com o chicote

não vá andar à deriva

e para manter a coisa viva

aos comensais, o lingote!...

 

MC

 

 

 

Alegoria

mcarvas, 20.07.10

Cumpre o preceito da roda

da roda que agora estala

no nó do gôto se entala

a roda que enrola a vida.

 

Dias se alongam no tempo

consomem-se em cinzas por dentro

víl ardor que sulca o ventre

quan longo, curto, sedento!

 

Na alegoria de um caprixo

repulsa de um sonho na têmpora

rola por dentro e por fora

que o viver é vil caprixo.

 

O querer perdeu no dono

lá p'rás bandas do sei lá

não mais repousa por cá

quedou-se perdido no sonho.

 

Entôa baixo um refrão

que urge fazer seu caminho

tão ténue, tão baixinho

um sopro, sorriso, perdão!...

 

Rebentam as ondas do tempo

no paredão da agonia

que enquanto a vida fugia

secava em espuma por dentro.

 

Corre farta em míngua solta

num corrimão de anteparas

porquê? Não sei nada para

essa ruga tão afoita.

 

Solta-se enfim o cordame

que ampara o sol poente

por mais que pulse ou intente

brilha murcho a quem o clame.

 

Solta a prôa suas garras

acolhendo vento a jusante

rasgando sulcos a levante

gravando em carne as amarras!...

 

MC

Nascer

mcarvas, 13.12.09


Sorriu virado p'ro sol
tentando agarrar o mundo
mas o dia ficou mudo
ao ve-lo murcho, tão só!

No beirar corre ligeiro
ganhando força e coragem
confunde-se,entre a folhagem
no alto de seu poleiro.

Pequenino,bate as azas
sussurra-lhe a brisa ligeira
que ao vê-lo chegar-se à beira
logo,tão breve o agarra!

De mansinho o eleva
amparando-o em seu vôo
que até a aragem lhe soa
ao ninho que o amparava.

Partem juntos no momento
direitos ao sol nascente
não tem passado que o tente....
nova vida dá-lhe alento!

Rebola, bem alto na nuvem
que o veio aconchegar
está a aprender a voar
e a nuvem, com ele também!...

MC